Ainda a propósito da crise no Reino Unido – o modelo neoliberal em crise profunda — NO REINO UNIDO, O GRANDE REGRESSO DA LUTA DE CLASSES. Por William Bouchardon

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

14 m de leitura

NO REINO UNIDO, O GRANDE REGRESSO DA LUTA DE CLASSES

 Por William Bouchardon

Publicado por em 5 de Outubro de 2022 (original aqui)

 

Manifestação nas ruas de Londres em 1 de Outubro de 2022. © Compte Twitter do movimento Enough is enough

 

Esmagados por uma inflação de 10%, são cada vez mais os britânicos incapazes de pagar as suas contas e estão a recorrer aos bancos alimentares. No entanto, o novo governo de Liz Truss, que reverencia a ideologia Thatcheriana, prefere dar mais benefícios fiscais aos ricos e desregulamentar ainda mais a economia. Um programa de guerra social que levou a uma queda espetacular nas sondagens conservadoras e que até o Fundo Monetário Internacional e os mercados financeiros consideram inapropriado. Se os Trabalhistas beneficiam do seu estatuto de partido de oposição, a timidez das suas propostas é amplamente dececionante. Face a esta crise política, os sindicatos têm vindo a paralisar o país há vários meses com greves amplamente apoiadas.

 

«Enough is enough!» («Basta, já basta!»). No sábado passado, mais de 100.000 pessoas manifestaram-se no Reino Unido sob este slogan e apelaram a medidas fortes para enfrentar a explosão do custo de vida. Com a inflação a mais de 10% e os salários a subirem apenas cerca de 5%, muitos britânicos estão a ficar rapidamente mais pobres.

 

EMPOBRECIMENTO A ALTA VELOCIDADE

Tal como no resto da Europa, os preços da energia são o principal motor da inflação. Mas o choque é maior do que noutros locais: de acordo com estatísticas oficiais, em Agosto de 2022, o preço do gás subiu 96% num ano e o da eletricidade (cerca de 40% da qual é produzida com gás) em 54%. A causa: a paragem das exportações russas e a especulação que a acompanha, claro, mas também a baixa capacidade de armazenamento e particularmente a baixa produção no Mar do Norte devido às operações de manutenção e ao esgotamento gradual dos campos explorados. Como grande importador de alimentos, o Reino Unido está também a registar um aumento acentuado dos preços dos alimentos: +13% ao longo de um ano.

Estes aumentos são tanto mais violentos quanto atingem um país onde muitas pessoas já estavam a ter dificuldade em fazer chegar o dinheiro até ao fim do mês. Durante várias décadas, e em particular após a privatização da habitação social por Margaret Thatcher, o custo exorbitante da habitação tem absorvido uma proporção considerável do orçamento dos britânicos. Esta situação agravou-se ainda mais desde 2010, quando os Conservadores voltaram ao poder, com a sucessão de políticas de austeridade que dizimaram os serviços públicos e os benefícios sociais. A consolidação de seis grandes prestações sociais (crédito fiscal dos pais, subsídio de desemprego, subsídio de habitação, etc.) num único “crédito universal” mergulhou muitas famílias precárias na pobreza. Incrivelmente complexa, a sua implantação, que ainda não foi concluída, deverá custar um total de 12 mil milhões de libras…

Antes do início da guerra na Ucrânia, a pobreza já afetava 14,5 milhões de pessoas, ou seja 22% da população.

Antes da eclosão da guerra na Ucrânia e das suas repercussões no nível de vida, a pobreza já era particularmente elevada: em Janeiro já afetava 14,5 milhões de pessoas, ou 22% da população, um número que sobe para 31% no caso das crianças. Da mesma forma, o Trussell Trust, uma ONG humanitária responsável por muitos bancos alimentares, anunciou no início do ano um aumento de 81% na utilização da ajuda alimentar ao longo dos últimos cinco anos. Estes números têm sem dúvida aumentado desde então.

Enfim, ao contrário da França, o Reino Unido não introduziu um escudo tarifário sobre os preços da energia, o que explica a subida em flecha das faturas. Durante meses, os Conservadores aumentaram regularmente os limites máximos das faturas, uma vez que o seu congelamento era considerado demasiado dispendioso para as finanças públicas. Face aos protestos crescentes, particularmente do movimento “Don’t Pay UK“, que exigia que as pessoas se recusassem a pagar as suas contas de energia, os preços foram finalmente limitados muito recentemente a £2.500 por ano para uma família média, o que ainda é o dobro da conta do ano passado. Enquanto os super lucros das empresas de energia são tributados a 25% – com a possibilidade de deduzir investimentos deste imposto – este limite sobre os custos energéticos, em vigor durante dois anos, deverá custar ao governo britânico uma fortuna: entre £130 e £150 mil milhões, de acordo com as estimativas.

 

LIZ TRUSS, O REGRESSO DO THATCHERISMO NO PIOR MOMENTO POSSÍVEL

Se a reação do governo, embora muito insuficiente, foi tão demorada a ser vista, foi também devido à crise interna do Partido Conservador. Após vários escândalos, nomeadamente a organização de festas bem regadas a álcool em pleno confinamento, Boris Johnson foi obrigado a demitir-se no início de Julho. Cada vez mais criticado por membros do seu próprio partido, “BoJo” tinha uma imagem bem merecida de mentiroso arrogante. O Verão foi assim marcado pela votação interna Tory, em que os 170.000 membros do partido tiveram de decidir sobre o sucessor de Johnson. Surfando na sua imagem de “Dama de Ferro” e na impopularidade do seu adversário Rishi Sunak, visto como um traidor por alguns conservadores por ter abandonado Johnson que o tinha nomeado ministro das finanças, Liz Truss ganhou muito facilmente. Enquanto Truss não teve dificuldade em convencer os membros do seu partido com as suas promessas Thatcherianas, o eleitorado britânico mostrou-se muito mais cético em relação a ela, se não mesmo totalmente contrário.

Eleita com 81.000 votos, a proclamada herdeira de Margaret Thatcher viveu imediatamente uma crise de legitimidade. Para conquistar o seu campo, prometeu um regresso ao auge do neoliberalismo, através de cortes de impostos drásticos e da desregulamentação da economia. Um projeto que está de acordo com a deriva libertária de uma franja do partido, que vê no Brexit uma oportunidade de se ver livre de todas as normas anteriormente impostas pela UE e de assinar acordos de comércio livre a todo o custo. O seu objetivo? Transformar a Grã-Bretanha num gigantesco país livre de impostos, onde os homens de negócios podem conduzir os seus negócios sem impedimentos e as finanças podem florescer sem limites, transformando Londres numa “Singapura no Tamisa”.

Após o anúncio de um escudo fiscal energético e de uma breve pausa devido ao funeral da Rainha Isabel II, Liz Truss optou por fazer uma declaração anunciando medidas fortes. Kwasi Kwarteng, o novo Chanceler (equivalente ao Ministro das Finanças) apresentou um “mini-orçamento” que incluía o fim da taxa de imposto de 45% sobre os rendimentos mais elevados e do limite máximo dos bónus dos operadores em bolsa e na banca. Para satisfazer as necessidades energéticas, Truss também levantou a moratória sobre a fraturação hidráulica a fim de explorar as reservas de gás de xisto o mais rapidamente possível, o que acarreta consequências ambientais. A escalada deverá prosseguir: 570 normas sobre pesticidas, qualidade alimentar e saúde dos consumidores serão revogadas em breve. O novo ministro da economia, Jacob Rees-Mogg, um gestor multi-milionário de fundos de cobertura e figura da ala libertária dos Conservadores, quer abolir todas as leis aplicáveis às empresas com menos de 500 empregados. Satisfeito por ver as suas propostas mais delirantes retomadas pelo novo governo, o Instituto de Assuntos Económicos, que se descreve a si próprio como “o grupo de reflexão original do mercado livre”, já está a pensar no que fazer a seguir, por exemplo, organizando conferências com céticos do clima para pressionar o governo a abandonar o objetivo da neutralidade de carbono de 2050.

 

OS CONSERVADORES NUM IMPASSE POLÍTICO

Em plena crise social, o anúncio de novos presentes fiscais para os mais ricos tem obviamente indignado a população. Mais surpreendentemente, estas medidas também provocaram reações muito negativas por parte dos mercados financeiros. De facto, os cortes fiscais e as novas despesas consideráveis do escudo energético devem ser financiados exclusivamente através da obtenção de empréstimos no mercado. Uma escolha arriscada, para dizer o mínimo, no meio de um período de subida das taxas de juro do banco central. Preocupados com esta fuga em frente da dívida e a falta de investimentos em todas estas novas despesas, os mercados reagiram fortemente. O valor da libra esterlina desceu ao seu nível mais baixo, quase em paridade com o dólar. Contudo, esta queda permitiu a um dos parentes de Kwasi Kwarteng embolsar vários milhões. As taxas de juro da dívida britânica dispararam, forçando o Banco de Inglaterra a intervir numa emergência através da compra de 65 mil milhões de libras esterlinas de obrigações, com resultados limitados. Na sequência disso, o Fundo Monetário Internacional pediu oficialmente ao governo para “reconsiderar” o seu orçamento, o qual foi considerado inflacionário e demasiado desigual. Este repúdio é tanto mais violento quanto provém de instituições eminentemente neoliberais.

Do sítio Novara pode ver-se:

 

Como salienta o economista James Meadway, o novo governo britânico provavelmente pensou que poderia imitar os EUA e contrair dívidas sem contar com o seu custo. Mas enquanto os EUA podem contar com o “privilégio exorbitante” do dólar como a moeda de referência mundial, o Reino Unido não pode. Assim, sob pressão dos mercados, Kwarteng teve de abandonar o seu plano de eliminar o escalão superior de 45% de impostos. Exasperados pela incompetência de um governo que está no poder há menos de um mês, os deputados conservadores já enviaram cartas apelando à partida de Truss e da sua equipa. A preocupação dos deputados Tory é facilmente compreensível: as últimas sondagens mostram o Labour com cerca de 50% de intenção dos votos, em comparação com cerca de 20-25% para os Tories! Se uma eleição se realizasse em breve, os Trabalhistas teriam a maior maioria na história e os Conservadores perderiam quase 250 lugares.

 

Desde já, muitos Conservadores sentem a falta de Boris Johnson. Embora este fosse sem dúvida um fantasista e uma fraude, teve sempre uma certa clarividência política. Em 2016, sentindo a extensão da rejeição da União Europeia, tomou o partido dos Brexiters com o único objetivo da sua própria ascensão política. Esta estratégia deu frutos: três anos mais tarde, substituindo uma Theresa May impotente por lhe faltar uma maioria, esmagou Jeremy Corbyn ao centrar quase toda a sua campanha na necessidade de respeitar o veredicto do referendo. Além disso, em oposição à franja austeritária do seu partido, teve o cuidado de prometer grandes investimentos no SNS, na polícia e nas infraestruturas necessárias para desenvolver o Norte de Inglaterra, particularmente pobre. Apesar das suas muitas falhas, Johnson tinha assim criado uma oferta política populista que respondia às exigências do eleitorado, algo que nenhum político no seu campo parece ser capaz de fazer hoje em dia. Mais uma vez, as sondagens são cruéis para Truss: 30% dos eleitores pensam que Johnson seria melhor que ela (em comparação com 13% ao contrário), um número que sobe para 48% (em comparação com 19%) entre os eleitores conservadores.

 

O PARTIDO TRABALHISTA, O NOVO PARTIDO FAVORITO DAS ELITES

Para o partido Trabalhista de Keir Starmer, a partida de Boris Johnson oferece uma oportunidade sem precedentes. Dados os níveis de impopularidade de Liz Truss, o líder trabalhista não tem de prometer muito para ser mais atrativo. É um papel que convém a Starmer, que tem renegado constantemente a agenda radical de Jeremy Corbyn e atacado a esquerda do seu partido com acusações de anti-semitismo desde que ele se tornou líder da oposição em Abril de 2020. Durante quase dois anos, a estratégia centrista de Starmer não funcionou: as suas diferenças com as políticas de Boris Johnson eram mínimas e os conflitos internos do Partido Trabalhista fizeram com que o partido parecesse não estar preparado para governar. Com a partida de Johnson e a loucura Thatcheriana de Liz Truss, o contexto torna-se subitamente muito diferente: Starmer pode afirmar ser a oposição de senso comum, representando o “centro da política britânica”, como afirmou no seu discurso na conferência do seu partido em Setembro.

Leia-se também Keir S tarmer, o François Hollande britânico?

 

Claro que, confrontado com a ansiedade de desqualificação e empobrecimento, Starmer fez algumas concessões à sua esquerda. Em matéria de energia, promete um enorme plano de investimento em energia renovável e nuclear para parar a produção de combustíveis fósseis até 2030, e quer criar uma nova empresa nacional de energia, a Great British Energy. Finalmente, a fim de se diferenciar dos conservadores que privatizaram a renda dos campos de gás do Mar do Norte nos anos 90, pretende criar um fundo soberano baseado no modelo norueguês. Este fundo, que seria alimentado pelas receitas das energias renováveis, tornaria possível financiar investimentos estratégicos para o futuro do país. Um programa interessante, mas que tem o cuidado de não mencionar a renacionalização do sector energético, como proposto pelo seu antecessor. Para Starmer, nem pensar em retomar a posse das empresas energéticas, basta que o Estado compense as deficiências do mercado, acelerando a transição ecológica.

O mesmo se aplica à habitação: Starmer está de acordo com o sonho de Thatcher de um país de proprietários de casas. Para permitir que mais britânicos possam comprar as suas casas apesar dos preços exorbitantes, ele promete, por exemplo, empréstimos garantidos pelo Estado e uma preferência por compradores que ainda não possuam várias casas. Estas pequenas medidas evitam cuidadosamente abordar as verdadeiras questões: a luta contra a especulação, a proteção dos inquilinos, o controlo do arrendamento e, claro, a construção de habitações sociais. Se o discurso de Starmer não desperta o entusiasmo das multidões, parece, no entanto, ser correto em comparação com o discurso totalmente surrealista de Truss. Os atores económicos e os principais meios de comunicação social não se enganaram: tranquilizados pelo afastamento da esquerda e pelo programa muito moderado do Starmer, já o retratam como futuro primeiro-ministro. Mas as próximas eleições só se realizarão daqui a dois anos, o que ainda dá tempo aos Conservadores para corrigirem as coisas e substituírem Truss por alguém mais competente, ou mesmo para trazerem Boris Johnson de volta ao poder.

 

O REGRESSO DO SINDICALISMO EM FORÇA

Embora as intenções de voto indiquem um fortíssimo voto a favor dos Trabalhistas por falta de alternativa, muitos britânicos não estão satisfeitos com as meias medidas propostas pela oposição. Neste contexto, os sindicatos têm estado constantemente no centro das atenções nos últimos meses. Em muitos sectores da economia, as greves multiplicaram-se desde o Verão, atingindo um nível não visto desde a ofensiva de Thatcher há 40 anos. Trabalhadores ferroviários, estivadores, trabalhadores da Amazon, professores, carteiros, motoristas de autocarro, enfermeiros do SNS, homens do lixo, advogados… todos se estão a mobilizar para exigir salários mais elevados. Até empregados do Daily Express, um jornal conhecido pela sua postura anti-sindical, participaram em dias de greve.

Este nível de protesto social é ainda mais impressionante porque organizar greves é particularmente complicado no Reino Unido: por um lado, as greves não declaradas e reconduzíveis são totalmente proibidas, enquanto que o direito individual à greve não existe. Por outro lado, uma greve só é legal se os sindicatos consultarem todos os seus membros numa votação em que a participação deve ser de pelo menos 50% e o desejo de greve de 25% dos eleitores (40% em certos sectores considerados essenciais), sendo o voto dos ausentes considerado como um voto contra. Este é um processo extremamente laborioso, introduzido por Margaret Thatcher em particular para enfraquecer o poder dos sindicatos. Apesar destes obstáculos, os sindicatos conseguiram unir um grande número de pessoas nos últimos meses e não tencionam parar até que as suas exigências sejam satisfeitas, em particular um aumento dos salários de acordo com a inflação. Apesar dos habituais ataques dos meios de comunicação social sobre os bloqueios que incomodam a população, os sindicatos são, de momento, muito bem considerados, sendo a sua ação considerada legítima dada a situação económica.

Ultrapassada pela amplitude do movimento, Liz Truss pretende tornar ainda mais difícil organizar greves e reagir com a mesma firmeza que Thatcher. Mas ao contrário de Thatcher, de quem afirma ser a herdeira, ela não pode contar com uma base social sólida. A sua estratégia de confronto arrisca-se, portanto, a galvanizar o apoio público aos grevistas. O avanço mediático de Mick Lynch e Eddie Dempsey, líderes do RMT (sindicato dos trabalhadores ferroviários, marítimos e dos transportes), que eram desconhecidos até há pouco tempo e se tornaram verdadeiras estrelas nos programas de televisão, testemunha a inversão da situação em comparação com os anos 80. Mas se a população apoia as greves, o braço de ferro social ainda está longe de ser ganho: poucas empresas concordaram até agora com as exigências dos trabalhadores. Uma greve que se arrasta significa esgotamento e empobrecimento dos envolvidos, levando à desmoralização e divisões entre os grevistas.

Além disso, a tradução política deste movimento social ainda não é clara. Fundado pelos sindicatos, o Partido Trabalhista deveria ser a saída natural para as exigências dos trabalhadores na arena política. Mas desde que Keir Starmer tomou posse, o partido tem estado muito distante das mobilizações sociais. O próprio Starmer está incrivelmente silencioso sobre as greves que paralisam o país. Numa tentativa de forçar a sua mão, sindicalistas, representantes da esquerda trabalhista e o jornal socialista Tribune juntaram-se para lançar o movimento Enough is Enough, que espera unir a raiva social em torno de cinco exigências-chave: salários mais altos (com um salário mínimo de £15/hora), custos energéticos mais baixos através da renacionalização das empresas energéticas, um grande plano para combater a fome, um programa para construir habitação social e proteger os inquilinos, e um imposto sobre grandes fortunas. Para já, o movimento lançou-se com sucesso organizando reuniões em muitas grandes cidades e cidades de média dimensão, seguidas de um grande dia nacional de ação a 1 de Outubro. Mas o que acontece a seguir é ainda incerto: o esgotamento e a divisão irão minar o movimento ou serão galvanizados por algumas vitórias e pela fragilidade do governo? Qualquer que seja o resultado do movimento atual, Liz Truss terá tido êxito em pelo menos um aspeto: ser tão odiada como a “Dama de Ferro

__________

O autor: William Bouchardon é diretor da rubrica de economia em Le Vent se Lève. Escreve também para @socialter e @reporterre. É licenciado em Ciências Políticas pelo IEP de Grenoble.

 

Leave a Reply